prostituição do branding
A Prostituição do Branding: Quando a Essência da Marca Vira Mercadoria Barata

Introdução
Vivemos uma era em que o termo
branding se tornou onipresente. De grandes corporações a pequenos negócios de bairro, passando por influenciadores digitais, camelôs e startups bilionárias, todos afirmam “fazer branding”. O conceito, que nasceu da necessidade de construir marcas sólidas, autênticas e com propósito, foi capturado pelo frenesi do mercado e virou moda — ou pior, virou commodity.
Hoje, cursos de fim de semana prometem transformar leigos em gurus, consultorias vendem pacotes mágicos de “construção de identidade”, e as redes sociais estão lotadas de “especialistas” que nunca estudaram comunicação, mas colecionam certificados como selos de supermercado.
O resultado? Uma prostituição do branding, onde a profundidade estratégica é substituída por discursos vazios e a expertise virou descartável.
O Branding Original: Essência, Propósito e Estratégia
Antes de se tornar buzzword, branding era sinônimo de construção de significado. Era um processo profundo, multidisciplinar, que envolvia pesquisa, análise de mercado, psicologia do consumidor, cultura, propósito e visão de longo prazo.
Construir uma marca era criar uma história, um universo simbólico, uma promessa genuína — algo que só se consolidava com tempo, consistência e autenticidade.
Grandes marcas como Apple, Nike, Coca-Cola e Natura não nasceram de fórmulas prontas ou templates de Instagram. Elas são resultado de décadas de trabalho estratégico, alinhamento interno, escuta ativa e coragem para inovar.
A Banalização: Quando Tudo Vira Branding
Com a popularização do termo, o branding foi se esvaziando.
Hoje, qualquer ação de marketing, qualquer post bonito, qualquer logo “moderno” é vendido como branding.
O mercado se encheu de soluções milagrosas:
- Cursos relâmpago que prometem formar “brand strategists” em um fim de semana;
- Consultorias que vendem pacotes de “identidade visual” sem entender o negócio do cliente;
- Templates e fórmulas que prometem “posicionamento de marca” em cinco passos;
- Especialistas instantâneos que nunca estudaram comunicação, design, psicologia ou negócios, mas se autoproclamam gurus após meia dúzia de certificados online.
O branding virou produto de prateleira, vendido em massa, sem profundidade, sem contexto, sem verdade.
O Preço da Superficialidade
Essa prostituição do branding tem consequências graves para marcas, profissionais e consumidores:
Marcas Vazias, Sem Alma
Quando o branding vira commodity, as marcas perdem sua essência.
Vemos uma avalanche de identidades visuais genéricas, slogans vazios, discursos de propósito copiados e colados, campanhas que prometem transformação mas entregam apenas mais do mesmo.
O resultado? Marcas sem personalidade, sem conexão real com o público, facilmente esquecidas ou substituídas.
Consumidores Céticos e Desconfiados
O público percebe quando o discurso não condiz com a prática.
A saturação de “propósito”, “inovação” e “impacto” sem lastro real gera desconfiança.
Segundo pesquisas recentes, mais de 60% dos consumidores globais afirmam não confiar em marcas que usam discursos vazios de sustentabilidade ou inclusão apenas para vender mais.
A superficialidade cobra seu preço: a perda de confiança e relevância.
Profissionais Desvalorizados
A multiplicação de “especialistas” de ocasião desvaloriza o trabalho sério de quem se dedica ao estudo e à prática do branding.
Profissionais experientes, que entendem a complexidade do processo, veem seu trabalho ser nivelado por baixo, enquanto o mercado se enche de soluções rápidas e baratas.
Por Que Chegamos Aqui?
A prostituição do branding é sintoma de uma cultura imediatista, que valoriza atalhos, resultados rápidos e aparência em vez de essência.
Vivemos a era do “faça você mesmo”, potencializada por plataformas digitais, onde tudo parece fácil, acessível e replicável.
Ferramentas como Canva, bancos de templates e IA generativa democratizaram o acesso ao design, mas também criaram a ilusão de que branding é só “fazer um logo bonito” ou “postar frases de efeito”.
O branding virou fast-food: pronto em minutos, barato, mas sem valor nutricional.
O Que É Branding de Verdade?
Branding de verdade é processo, não produto.
É pesquisa, escuta, análise, estratégia, criatividade, consistência e, acima de tudo, verdade.
É alinhar cultura interna, experiência do cliente, comunicação, propósito e entrega.
É construir reputação, gerar valor e criar conexões autênticas e duradouras.
Não existe atalho para construir uma marca relevante.
Branding não se aprende em um fim de semana, não se faz com fórmulas prontas, não se terceiriza para quem não entende o seu negócio.
O Caminho de Volta: Resgatar a Essência
Para resgatar o verdadeiro valor do branding, é preciso:
- Valorizar a profundidade: Investir em pesquisa, estratégia e autoconhecimento antes de partir para a estética.
- Buscar profissionais qualificados: Procurar especialistas com formação sólida, experiência prática e visão multidisciplinar.
- Fugir de soluções mágicas: Desconfiar de promessas de resultados rápidos e fáceis.
- Construir de dentro para fora: Branding começa na cultura da empresa, nos valores vividos no dia a dia, e só depois se manifesta na comunicação.
- Ser autêntico: Marcas verdadeiras não precisam de discursos vazios. Elas são reconhecidas pela coerência entre o que dizem e o que fazem.
Conclusão
A prostituição do branding é um alerta para todos que acreditam no poder das marcas.
É hora de resgatar a essência, valorizar o processo, buscar profundidade e autenticidade.
Só assim as marcas poderão construir legados, gerar impacto real e conquistar a confiança de um público cada vez mais atento e exigente.
Branding não é moda passageira. É construção de significado. E significado não se vende em pacote.
Sobre o Autor: Daniel Guedes, especialista em branding e estratégia de marketing digital, com mais de 25 anos de experiência ajudando empresas a construir marcas fortes e mensuráveis.
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Daniel é CEO da ID_Lab Comunicação e Design